segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Espelho de amor.


Em uma das milhares de frases e citações de Gandhi, o mestre hindu compara a vida a um espelho, em que se você sorri as pessoas sorriem para você, se está triste elas se entristecem, se está com raiva, elas lhe devolvem a raiva, e por aí vai.
Certa vez conversando com um amigo me lembrei desta frase. Não obstante fosse praticamente impossível dissuadí-lo das convicções pessimistas, tentei argumentar utilizando as palavras de Gandhi e algumas alusões ao sensacionalista marketeiro "O Segredo" (que salvo seu caráter tristemente materialista não diz nenhuma inverdade, apenas distorce. Opinião minha,óbvio.)
Ao fim de todo o monólogo ouvi de meu triste expectador a seguinte conclusão:
" Não sou eu o complicado, apenas reajo aos fatos à minha maneira. Quando chego mal-humorado em algum lugar e vejo um grupo de conhecidos sorrindo largamente, mais me irrito. Assim como, se estou feliz e vejo gente triste, acabrunhada, trato de ignorar rapidamente. As vezes até tento alegrar os ambientes, mas com gente depressiva não dá. - Fecha aspas.
Percebi de pronto que eu havia terminado de conversar mais ou menos trinta minutos comigo mesmo, porque o colega não ouviu uma palavra do que eu disse. Era um convicto auto-piedoso, que gastava todas as energias culpando o mundo ao seu redor.
Se chegava triste a uma festa, o sorriso dos amigos em grupo lhe parecia chacota, como se todos ali estivessem a rir dele. Isso o irritava mais e, ainda o impedia de colher um pouco da alegria alheia. Essa conduta o afastava cada vez mais do convívio daqueles que o queriam bem, tornando-o cada vez mais prisioneiro de seu próprio humor.
Quando estava feliz não suportava gente triste, dado talvez a sua dificuldade em estar alegre, temia que a tristeza de outro lhe roubasse a tão rara felicidade.
Quanta gente pode estar agora agindo dessa maneira e não percebe?
É uma tolice acreditar que nossos problemas são tão sérios que merecem a atenção de todos. Sem partilhar do convívio social a pessoa se furta as mais diversas experiências e aprendizados.
Se não tolera com o mínimo de compaixão as dificuldades de relacionamento ou de vida do outro não pode esperar nada mais que isso pra si .
Por detrás de sorrisos fartos as vezes se escondem muitos sofrimentos, esperando apenas um sorriso seu para serem aliviados. Ninguém está no mundo de férias com vencimento infinito, cada pessoa tem seu espinho cravado no coração com o qual aprendeu a conviver sem precisar machucar os outros. Cabe aos mais lúcidos o mínimo de amor afim de se tornar potente analgésico das aflições alheias.
A vida é curta, muito curta. É necessário que possamos todos os dias resolver quais são nossas prioridades. Não vale a pena um minuto de ódio ou rancor, menos ainda passar algum tempo afastado de tudo e de todos porque acreditamos que não são tão bons quanto merecemos. Esse minuto ou esse tempo pode ser o nosso último por aqui. E não existe acréscimo nem prorrogação.
Cada vez mais precisamos aprender a usar a borracha da compreensão para que não percamos tempo precioso a culpar e crucificar as pessoas. Como no espelho de Gandhi, se tentarmos acredito que podemos refletir nos outros a felicidade que tanto buscamos para nós, tornando a nossa vida e a de tantos outros bem mais agradável.
Agir como meu citado companheiro é a clássica doença do mundo em que vivemos, a do egoísmo. Ela faz com que o mundo inteiro se debruce sobre os próprios sofrimentos e ainda ignora os tantos outros que estão batendo na porta a toda hora, pedindo quase sempre apenas um sorriso.

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