sábado, 10 de setembro de 2011

Ainda lembro


Algumas pessoas costumam afirmar que relembrar momentos felizes é saudosismo e leve prenúncio de insatisfação com o presente.
Alguns notáveis eram adeptos desta teoria, como Jung e Nietsche. Eu, todavia, discordo, e tento expor porque a seguir..
Não chego perto da notabilidade e tampouco do cientificismo filosófico de ambos, mas acho que é possível conciliar o presente e as boas lembranças que nos visitam esporadicamente.
Por exemplo:
Estou (de fato) satisfeito com meu presente; tenho todas as possibilidades humildes ou não que gostaria, estou cercado justamente pelas pessoas que escolhi, e não perdi a dádiva de sonhar,planejar e sobretudo, de esperar com euforia a próxima manhã.
Parece simplório demais, mas se nos determos apenas algumas horas sobre as pessoas, vamos ver tristemente que muitos não têm sequer uma dessas bençãos.
Eventualmente me pego a relembrar fatos que vivi intensamente e isso me retorna calorosa alegria, as vezes risadas, noutras emoção, e isso não me tira o foco do presente .
Quantas vezes cantei uma música que já havia tocado centenas de vezes ,e lembrar de um palco não me fez querer virar a noite bebendo com a minha ex-banda.
Quantos reveillon`s de luau a beira-mar, amigos que não mais encontro, histórias e mais histórias, já me vi lembrando e rindo sozinho! Dirigir a noite toda para ficar apenas um dia nas cidades, e esperar o sol nascer como se nada mais importasse, me lembrando de ligar pro dezoito noventa e quatro pela manhã ou no 25 de agosto ou de jogar vôlei na rua! Entrar em carros estacionados só pra dizer " Se fóssemos assaltantes não morreríamos de fome" ! .
E quanto mais escrevo mais me lembro, e quanto mais lembro mais risadas eu dou! É saudade, mas com a melhor conotação possível, saudade de quem não partilha mais a vivência comigo, de outros que de fato não estão mais conosco, mas que fizeram parte da trajetória que me trouxe até aqui.
Não importa o quão distantes,diferentes,irreconhecíveis... Não importa, não faz diferença se doutores ou operários, hetero ou não, porque nas minhas lembranças serão sempre queridos pelo que foram para mim.
Quando os vejo ou converso, a única imagem que tenho é a de quando os conheci, seja na infância, adolescência ou demais épocas, em meu coração todos são imortais e imutáveis, em forma e conteúdo.
Farão parte para sempre do livro das minhas melhores lembranças, e certamente esse livro não tem fim .