domingo, 25 de dezembro de 2011

A conquista pelas palavras.


Muitos subestimam o poder das palavras, ignoram completamente o quanto uma frase, uma idéia ou ideologia, muda o comportamento de um grupo, a cultura de uma cidade, os valores morais de todo um povo. Podem mudar a história.
Vou citar dois exemplos dos extremos, e não vou concluir este cabeçalho dissertativo, porque considero o último exemplo a conclusão de tudo o que possa agrupar aqui ou em qualquer outro lugar. Vamos a eles, e cada um crie sua própria conclusão.


- Em 1930, um dos muitos seres odiosos que já habitaram nosso planeta era um cidadão comum entre a multidão; não possuia nenhuma grande habilidade, nem era dotado de nenhuma notabilidade,exceto que, percebeu que a palavra certa no momento certo, podia convencer um grupo de colegas de bar ou partidários, de que suas idéias eram as melhores. Daí utilizou-se da percepção da fragilidade de uns, da vaidade de outros, e convenceu um país inteiro a ser seu braço da morte; dominou cientistas, filósofos, engenheiros, médicos, operários, apenas pela ideologia. E os transformou em máquinas de horror, assassinos frios, pondo em prática uma das maiores vergonhas da humanidade. O holocausto.
Na extinta União Soviética, na mesma época, havia um psicopata a altura de Hitler. Era Joseph Stalin, ele utilizou os mesmos púlpitos onde se pregava a igualdade social, para lançar milhões de pessoas ao genocídio, a tortura e a fome.
Esses são apenas dois dos inúmeros recordistas de crueldade que passaram por aqui, se partíssemos de Gengis Khan na Mongólia até Idi Amin Dada em Ruanda, teríamos um livro de milhares de páginas. Não é o caso.

Por outro lado, utilizando o mesmo meio, as palavras unidas em forma de idéias, e as transformando em atitudes, um homem minúsculo fisicamente, sem ter a beleza dos ídolos modernos, e sem usar um nanograma de pólvora, uniu a pequena península tibetana com amor e espiritualidade, tomou em seus braços milhares de seguidores, e calou canhões e escopetas. Derrotou um exército enorme de braços cruzados e semblante apaziguador. Este deixou uma linda obra de amor e fraternidade em nosso mundo, e seu nome é dito por qualquer religião, senão com concordância de idéias, no mínimo com imensa admiração: foi Mahatma Ghandi, líder religioso do Tibet.
E no segundo e melhor exemplo, um homem, apenas um; viveu e morreu amando a todos, fez o bem e plantou o amor no coração endurecido de centenas de homens em 33 anos, e muitos outros bilhões nos anos subsequentes. Este dispensa apresentações, não pede reverência,porque ao Seu nome a alma dos homens se prostra em agradecimento e admiração. Em vida terrena, este homem não ordenou que se criassem bustos seus, não portou ouro nem prata, não feriu um semelhante, não escreveu suas memórias nem solicitou títulos.
Com palavras santificadas, gestos de amor profundo e a ideologia da espiritualidade perfeita, conquistou o maior exército de toda a história do planeta, e o maior território jamais imaginado por nenhum outro. Um exército que não carece de alistamento obrigatório, nem habilidades guerreiras; territórios que não demarcam fronteiras, que passam de geração em geração suas estrelas e condecorações a todos os que lutam por ele, que divide suas terras com igualdade,até com quem "não deseja e nem procura falar sua língua" .
Este é o maior conquistador de toda a história.
Jesus.
Ele conquistou o coração dos homens pela eternidade, e isso, arma ou ciência alguma pode, nem poderá fazer.
Este é o verdadeiro poder da palavra, usado com dignidade e amor. Este é o meio que um dia será o único a que ela servirá. Eu creio nisso.
Grande abraço a todos e um ano novo cheio de paz.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal

"
É véspera de Natal. O espírito de paz e boa vontade está mais intenso na maioria dos cristãos do mundo inteiro.
É uma época de comunhão familiar, de abraços de felicitações; onde todos se reúnem dentro das possibilidades e comemoram o nascimento do homem que norteia os passos de milhões de pessoas.
Não importa se antropólogos e cientistas em geral dizem ser discutível o dia 25 de dezembro ser o real dia do nascimento do Cristo. Suas comemorações superam os números, trazem a tona o melhor do sentimento humano, porque nessa data, muitos se lembram do Seu exemplo de amor e retidão, se lembram que todos devem afinar os esforços acerca de se aproximar um pouco mais da bem-aventurança.
Não desejo presentes aos amigos que partilham essa leitura, tampouco refeições refastelantes e exageradas, não desejo que se embriaguem madrugada adentro ou que dançem por toda a noite em ritmos variados.
Desejo sinceramente, a todos, o mesmo que gostaria para mim; que possamos todos entender o real sentido do dia de hoje, que nos façamos melhores, que tornemos-nos mais gentis, solidários e pacientes uns com os outros, que tenhamos mais abnegação, humildade e amor.
Não apenas por um dia, mas em todos os outros 364 do ano, porque não vai importar o tamanho da boa obra que seja feita na véspera ou no dia de Natal, se passarmos todos os outros a nos contradizer, em atitudes e palavras.
É o que desejo a todos que lêem esse blog e aos que não lêem também.
Muita paz a todos! "Senhor Jesus! Diante do Natal, que te lembra a glória na manjedoura, nós te agradecemos: a música da oração; o regozijo da fé; a mensagem de amor; a alegria do lar; O apelo a fraternidade; o júbilo da esperança; a bênção do trabalho; a confiança no bem; o tesouro da tua paz; a palavra da Boa Nova; e a confiança no futuro!... Entretanto, oh! Divino Mestre, de corações voltados para o teu coração, nós te suplicamos algo mais! ... Concede-nos, Senhor, o dom inefável da humildade para que tenhamos a precisa coragem de seguir-te os exemplos! (Chico Xavier - Obra: Gotas de luz e amor )

domingo, 18 de dezembro de 2011

Todo bêbado sofre de surdez. E quem não bebe sofre...


Eu sei o que parece: " você está é ficando velho" " ranzinza" " implicante".
Mas não é isso, eu também gosto de festas, apesar de não beber mais nos últimos tempos (faz tempo...) , também já fiquei alegrinho. Mas o que dizer do seu vizinho do apartamento de baixo, que começa um churrasco às onze da manhã de domingo e,às onze da noite, está com nível alcoolico mais alto que o de uma garrafa de whisky?
E o som no talo da rabeca, com os convidados disputando o prêmio gogó de ouro, fingindo que o copo é o microfone do Raul Gil...e você vai acordar às 5:30hs do "infelizmente" da madrugada.
Agora tá tocando Rádio Pirata e eu já balanço na cama de medo da hora do refrão- " tooooooquem, o meu coraççãoo..glup!
Burguesinha tocou 5 vezes, o Jorge Ben já cansou de cantar que mora num país tropical e torce para aquele timeco tão chato quanto os convidados. Ninguém merece, e nem começaram os funk's... Ai meu Deus...já antevejo a dança do quadrado, ado, aado, meu vizinho é do ca***ho...ops,desculpem,é o stress.
Vizinho non-sense é a mão do destino te punindo pela juventude transviada. É a redenção dos pecados da juventude, uma escola de resignação e paciência.
Pelo bem estar psicológico você evita desligar o disjuntor (bêbado adora ser desafiado...) . Se eu pudesse jogava minha última dúzia de ovos lá embaixo, mas sei não, vai que eles gostam da brincadeira e entoam o coro " mais um! " -é até capaz de um bebum ter a idéia de fazer um mexidão bate-entope pra aguentar a manguaça mais umas três horas...não, não farei isso nunca...
É melhor esperar os tímpanos se acostumarem, porquê o bêbado fica meio surdo, mas eu não. O manguaçado fala alto, repete tudo, canta em inglês, francês, até mandarim o sujeito arrisca. É quase uma entidade sobrenatural saída do Exorcista, fala em línguas inintelígiveis, filosofa e ama todo mundo. Beija até a boca do cachorro. Amanhã, de ressaca, dá uma coça no coitado, só porque depois da intimidade, amanhece lambendo sua cara.
Pois é...vida que segue, acho que o sono chegou, vou desmaiar antes que o Créuu chegue na velocidade cinco, senão terei pesadelos horríveis.
Boa noite!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Presente do futuro perfeito.


Cometemos enganos, e lamentamos. Fazemos escolhas equivocadas, desperdiçamos tempo útil com inutilidades, e novamente lamentamos.
Com o tempo, descobrimos nos erros, o cimento dos tijolos dos nossos maiores acertos. Mas só com o tempo. Até lá, então:
Passamos dias angustiantes por pequenos desencontros; enfrentamos o desânimo diante da insistência da vida em contrariar nossas vontades, e subestimamos a fé em nós mesmos, quando, algumas barreiras se interpõem entre nossos planos.
Somos imediatos, reativos, as vezes inpertinentes com a senhoria do tempo.
Mas ele aguarda, paciente, redundante em sua definição, por ser um e ainda assim o passado,o presente e o futuro.
Aguarda porque certamente já sabe que faremos a justa retratação, quando nos descortinar os seus novos planos para nossa vida, no momento justo, obrigando-nos, sem ter de exigir, a nos curvarmos diante da precisão engenhosa de seus caminhos.
Como seria fácil não sentir ódio, raiva, rancor; se soubéssemos que hoje, aquilo ou aquele que nos ofendeu no passado não faria diferença alguma. Como seria fácil amar sem exigir reembolso se soubéssemos que, muitos dos que estavam conosco não estariam mais aqui hoje. Certamente teríamos dito e feito mais, mesmo que tenhamos feito muito.
Muitas coisas mesquinhas e pequenas não seriam nossas companheiras de travesseiro, a remoer preocupações, se pudéssemos distinguir naquele tempo, o quanto eram passageiras, insignificantes mesmo.
A nossa presumida importância nos deixa cegos para as lições que a vida traz, arrogantemente acreditamos que somos senhores disso e daquilo, condicionamos nosso bom humor à recompensa de ter todos os nossos mais pueris desejos saciados na hora que quisermos, e tornamos a vida cinza para qualquer "não" que ela nos entoe.
Agimos como crianças mimadas, que acreditam seriamente que o melhor de viver é poder "brincar" na hora que bem entender; que acreditam demais nas próprias urgências, sem saber que a prioridade é semear, e não colher.
Como seria fácil ser paciente com o presente, se soubéssemos que o futuro nos reservaria grandes alegrias para pequenas realizações. E que tudo o que parecia enorme e urgente era apenas um breve ensinamento de perseverança e aceitação.
Pode ser esse o segredo para a nossa imaturidade: não ter a real dimensão do tamanho e importância das coisas quando jovens, para que, com o tempo, possamos olhar pra trás e ver que, o presente, se construiu um passo a frente do que pensávamos, mesmo que diferente do que queríamos, mas quase sempre além do que de fato merecíamos.
Sendo assim só há o que agradecer, e novamente curvarmos-nos a sabedoria indiscutível do tempo.
Eu o faço agora:
-Muito obrigado!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Valores sem preço.

Por definição simples, profissão é a atividade exercida segundo as aptidões e preferências de cada pessoa, com a finalidade básica de subsistência e função social.
Gracejo de conversa de botequim é dizer que prostituição é a mais antiga "profissão" do mundo, sendo essa afirmação, além de grosseira, também irreal.
Não existe uma base confiável em que possa-se afirmar quando a venda ( aluguel, entendam como quiserem...) do corpo iniciou-se. Na antiga civilação egípcia as prostitutas eram consideradas divinas, e recebiam presentes em troca de seu toque sexual. No Império Romano também existia um certo respeito pelas profissionais do sexo, sendo elas muito ricas e instruídas, tendo até conhecimento de questões políticas.
Atualmente a prostituição invadiu a internet, existem blog's, "profissionais" agendam encontros pelo msn e mantêm um "network" confiável pelo facebook. É a tecnologia a serviço do homem.
A história de Raquel Pacheco, Bruna surfistinha, virou livro e filme, foi um sucesso. E as ferramentas modernas para a prostituição tornaram o "negócio" mais seguro, amplo, e perigosamente mais atraente para as jovens e os jovens dispostos a melhorar a condição financeira de forma menos ortodoxa .
Tentar tecer uma opinião sobre o assunto sem o viés religioso é complexo, afinal o puritanismo do século XVI, liderado pelo Cristianismo, foi o primeiro grande movimento contestador da prática; mas creio ser possível fazê-lo.
A prostituição é uma oferta de serviço que obedece a lei de oferta-procura. Existe porque existem inúmeros consumidores, assim como só há tráfico por existir usuário, só se planta tabaco por existir fumantes, etc, etc.
Mas ao contratar os serviços sexuais de alguém, o consumidor paga para usufruir do corpo de outra pessoa. Mesmo que a (o) "profissional" estabeleça o preço e as condições, é tangível o preço pelo subjugo a partir do sexo? Qual é o preço de se "usar" o corpo de outro ser humano?
Existem jovens de classe média alta que se prostituem para sustentar um padrão de vida luxuoso, se auto-intitulam acompanhantes de luxo... outras e outros que, em tese,ou não, o fazem afim de pagar estudos, e alguns são apenas sobreviventes que se prostituem para o sustento básico.
Vemos casos de sexo em troca de outros valores, como promoções no emprego ( mas qual é a profissão real então?!) , sexo em troca de glamour, a lista é extensa e não acrescenta muito.
Fato é, que a vida não é fácil para a maioria das pessoas. A pobreza, a fome, a falta de perspectivas e oportunidades, a desigualdade, todos esses males dos quais somos cúmplices silenciosos todas as manhãs, açoitam milhões de pessoas pelo mundo todos os dias. E pode ser justificativa de muitas pessoas para a venda do corpo; mas por outro lado, muitas pessoas suportam privações inimagináveis , exercendo trabalhos pesados e minímamente remunerados, tendo em troca a manutenção do bem precioso da dignidade.
Se eu acho indigno se prostiuir? Sim, eu acho. Também não considero mais digno que a prostituta o contratante do serviço. Não significa que você concorde, valores morais são variáveis entre as pessoas, dependem de uma série de convicções. E eu tampouco considero a prostituição uma profissão, dado que me nego a crer que haja nascido alguém que possua apenas o sexo casual e banal como talento. E também por acreditar que essa não é uma função socializante, que constrói algum valor para a humanidade. A meu ver a promiscuidade materialista apenas desconstrói as já conturbadíssimas bases de valores humanos.
Olhando friamente para a troca do corpo pelos bens, não sei se posso repudiar quem escolheu tão desumana forma de provento material, não conheço os meios que levaram ao fim; mas penso com imenso repúdio, acerca das inúmeras pessoas que utilizam os bens materiais, passageiros, que lhes foram ofertados pela vida, para comprar algumas horas, não só do corpo, mas também da dignidade de outra pessoa.

domingo, 20 de novembro de 2011

A arte do tédio.

Domingo a tarde não é fim de semana, é prenúncio de segunda-feira. O fim de semana é o oásis em meio ao deserto do sono atrasado, das reuniões de trabalho ou das horas extra. E como bom oásis, ele desaparece rápido, mais ou menos na hora em que você descobre onde é a fonte de água cristalina atrás dos coqueiros esverdeados, que fica entre o fim da sexta e o almoço de domingo!
No fim, a vinheta do Fantástico não é a chamada de um programa de variedades jornalísticas, é na verdade o primeiro soar do despertador para o trabalho, é um convite para mais uma semana de ganha pão, e isso pode ser duro se você não estiver bem resolvido com a realidade de que a aposentadoria, é algo muito futurístico quando se tem vinte ou trinta anos.
O tédio pode tomar conta de você nessa hora, quando você lembrar que passou o sábado assistindo altas horas, ou que dormiu metade do domingo e acordou com os berros do Faustão. Mas não! Seja forte, é preciso resistir.
A arte do tédio consiste em não ceder a esse convite arrasador da vida cotidiana, a se vergar ao pensamento comum, que prega que diversão deve ser regada a cerveja, churrasco, sol e baladas.
O que é tédio pra alguns não necessariamente precisa ser para você. Nada contra as festas, mas não se vive delas, ao menos que você seja promoter ou Dj , mas nesses casos não conta, porque daí já é trabalho. Bem, de volta ao ponto, não precisamos disso tudo para ter uma folga satisfatória. E esse é o princípio fundamental da arte do tédio, descobrir que você pode ser feliz sem seguir um padrão. Claro, não é fácil, requer prática e auto-conhecimento, mas é muito possível. E não duvidem, há muita alegria escondida onde muitos vêem apenas rotina.
No conforto de casa, um bom filme, boa comida, uma boa compania (ajuda muito, mas sem pressão ok? Na falta de uma boa fique sozinho e espere. ) Então, assim, seu fim de semana já não exige um sol de rachar, nem churrasqueiras crepitantes, na verdade isso pode até atrapalhar! O frio é uma ótima pedida para esses programas. E você já tem um programa de sábado ou domingo, satisfação garantida e baterias recarregadas para mais uma semana de trabalho, afinal, sem trabalho não faz sentido ter fim de semana...
A arte do tédio não é um convite a reclusão, não entendam errado, ela é uma alternativa viável e muito boa para quem não ganhou na loteria e precisa de descanso para o corpo e para o bolso. É um convite para o convívio familiar prazeroso, para a descoberta do valor das pequenas coisas da vida, sem necessidade de fogos de artifício ou batidas frenéticas de "raves".
Ser feliz da porta pra dentro é o primeiro passo para conseguir satisfação lá fora, então não vamos continuar aceitando que a vida é tediosa no sofá da sala, porque essa idéia não é nossa, ela nos é incrustada desde a adolescência, talvez, quem sabe, para nos levar a encher os shoping's, estádios e boates a procura do ouro no fim do arco-íris.
O tédio ou a satisfação está em você, depende apenas do ângulo que você escolhe para observar. Escolha o melhor ângulo dentro das suas possibilidades e descubra o que há de melhor nelas. E seja feliz sem regras pré-definidas, aceitando o que você tem e se satisfazendo com plenitude em qualquer ocasião.
Agora, se puder, evite o Faustão e o Gugu, vai ajudar bastante...
No mais, boa semana e felicidades!

sábado, 12 de novembro de 2011

O país do futebol e a política do pão e circo.

Durante cerca de 7 séculos um dos principais divertimentos no Império romano foi o espetáculo de gladiadores do Coliseu, lutas sangrentas que terminavam quase sempre com apenas um vivo.
Esse período foi conhecido como o da política do pão e circo, dado que as lutas, realizadas entre escravos treinados, divertiam a todo o império e distraíam a plebe quanto a dureza de suas vidas, sem possibilidade de ascensão social e política, e com péssimas condições de saúde e higiene, em contradição com um império riquíssimo, que despendia fortunas afim de alimentar exércitos e o luxo da nobreza.
Longe da velha bota européia, pouco mais de um milênio depois do declínio do circo romano, o Brasil ainda não tinha nome para os europeus, e esse tempo, de certo, foi suficiente para os nossos ancestrais se multiplicarem por aqui em várias tribos, diversas culturas, línguas, até sermos descobertos; massacrados e pilhados pelos colonizadores.
Sucederam-se formas de governo, políticas, massacres, populismo, ditadura, enfim. Tudo o que a história moderna nos conta até hoje.
E chegamos a 2011 como a oitava economia do mundo, mas ainda com fome, sedentos de igualdade e com muitos irmãos vivendo na miséria absoluta.
O que isso tem a ver com o Império romano? Nada. Exceto que vivemos também uma visionária política de "pão e circo", o nosso coliseu é gramado e não requer mortes( menos mal...), não se usa espadas, nem armaduras; é apenas bola e chuteiras.
O universo do futebol é tão encantador que tem o poder de arrebatar milhões de fanáticos, entretêm 100, 200 milhões de súditos por uma hora e quarenta e cinco minutos, e rende conversas e manchetes de jornais até o próximo round do espetáculo.
É tão massificante o esporte, que, nossos políticos se deram um aumento desproporcional em maio de 2006, pouco antes da Copa da África, e poucos souberam, pela rede Globo ninguém soube.
Se hoje você perguntar a um menino de 8 anos se ele quer ser o Neymar ou médico: Neymar. E olha que disse médico, porque se a pergunta for advogado, pesquisador, professor, aí ele chora e chama a mãe.
É o glamour, evidente, mas não só.
Quantias astronômicas de dinheiro são pagas aos artistas da bola, some ainda a renda com publicidade.
Clubes devem fortunas a União em impostos e o governo, mal-logrado em recebê-las, cria jogos lotéricos para sanar os débitos. Paga-se o jogo com jogo, e o jogo todo é pago pelos milhões de trabalhadores sem glamour, que cumprem com as suas carregadas obrigações em impostos mil, e mais, com a visita aos estádios, consumo de produtos patrocinados e uniformes.
Na política do pão e circo, poucos sabem o que faz o político que elegeram, mas a maioria sabe da vida noturna dos ídolos de seus times, quase ninguém conhece as artimanhas mil do congresso, mas sabe todos os pontos de seu time no campeonato, e vida que segue com as conversas políticas se resumindo a um lamento curto e as futebolísticas a intermináveis palestras sobre táticas e possibilidades matemáticas.
Certa vez li em algum lugar que o futebol é o "matrix" do povo, onde nos desconectamos da vida real para usufruir do prazer de torcer por nosso time. Mas o nosso "matrix" vem falhando, porque termina o nosso coliseu e continuamos envoltos na névoa do descaso para com a vida real.
Governos vão e vem, e nós assistimos o jogo apenas como espectadores, votos e títulos são computados e o trabalhador continua sua marcha pelo sustento, para completar a política do pão e circo, dessa vez para garantir o pão de cada dia.
Eu também gosto de futebol, nunca me excluí de nada que escrevi, não tenho essa pretensão. Mas a cada dia que passa o nosso rico país caminha para um futuro econômico e político cada vez mais importante no cenário global, e esse caminhar solicita cada vez mais cidadãos conscientes e engajados, para que o bolo, que cresce mais nos últimos anos, não continue saciando com sobras a fome de uns poucos e destilando migalhas para a grande maioria da população brasileira.
A dois mil anos atrás, os gladiadores romanos entravam no coliseu e, de cabeça baixa, diziam ao imperador: " Ave César, morituri te salutant" - que significa : "Ave César, os que estão a ponto de morrer te saúdam" . Hoje, no Brasil, certamente milhares de pessoas dizem a mesma coisa inconscientemente quando começa o espetáculo da bola, com as despensas e bolsos vazios, e a vida ruindo em miséria cotidiana, mas ansiosos pelo espetáculo. Nós temos muitos imperadores, que sabendo do conformismo de seu povo, seguem saqueando os cofres públicos e garantindo que a nova nobreza siga feliz em seus iates e jatinhos. Então eles também, inconscientemente ou não, agradecem a nossa servidão velada e trabalham para que o circo não pare.
Afinal, o espetáculo não pode parar.
Ave Cesar. . .

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Desabafos da noite.

A noite se aproxima e eu não consigo deixar de pensar na sua presença. Não te vejo, mas sei que me aguarda com a mesma ansiedade com que te procuro, antes de me render a sonolência.
Dividimos a cama tantas vezes que já não sei qual é o meu lado, todos os cantos do apartamento guardam suas marcas, tudo me lembra você e não consigo apagar essas memórias marcadas nas paredes e na minha pele.
Meu sangue corre quente pelo seu corpo e já posso ouvir seu inconfundível som sussurrando em meus ouvidos. Mas, fulgaz, você me escapa entre os dedos a todo tempo.
Quero viver sem você, mas não consigo, rechaço sua presença, não tenho sucesso.
Então continuo, dando meu sangue por ti todas as noites. E a matar-te pela manhã.
Mas a noite,novamente, aparece um clone teu a me apavorar como que a dizer com seus zumbidos: "você é meu, mesmo que me mate pela manhã, a noite estarei aqui "
Já tentei te afastar com raquetes, me intoxiquei com pastilhas de veneno, pulverizei mais veneno com querosene, mas, no fim, você sempre vence pelo cansaço, com a persistência de um guerreiro.
Enfim, eu me rendo a você pernilongo, maldito mosquito hematófago, sagaz e insaciavel. Vamos continuar nobres, partilhando cordialmente nossas noites, sempre com essa desequilibrada relação onde eu dou sangue e você me traz apenas irritação e insônia.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Morte. Assunto pra vivo.


A morte é daqueles assuntos que não se gosta de abordar. É só começar e tome cruz-credo pra cá, ta amarrado pra lá, e haja Deus-me-livre, troca o rumo da prosa logo!
Nesta terça(25) a médica da ex-viva e cantora Amy Winehouse declarou que avisou a jovem, um dia antes de sua morte, que ela estava em eminência de partir desta para uma melhor a qualquer momento. Amy respondeu: " Não quero morrer" ( * fala original: " I dont want to die, is tied up in the name of Jesus! " sic).
Era de se esperar, ninguém quer morrer, mesmo que as vezes se faça uma força danada pra provar o contrário, como era o caso da talentosa e viciada e alcólatra e etc Amy.
Se dependesse da gente , a Terra tinha que ter mais uns 30 andares e 60 puxadinhos, nem que fosse de telha de amianto, porque ninguém sairia daqui. Tá sempre faltando alguma coisa pra fazer, sempre amanhã...
A propósito, até acho que a ex-médica da estrela é competente, mas cá pra nós, essa é aquela médica que você reza pra não cruzar com seu consultório, não é? Imagina, chego eu na cadeirinha da doutora, exames na mesa, cigarros no bolso, já olhando o celular por baixo da perna pra ver se aconteceu alguma coisa no Facebook ( de útil nunca...) e ela me diz: " sr. Marcelo, sua morte é questão de tempo..." , ok, obrigado, onde eu assino? Vai receitar nada não? Um sal grosso com arruda, uma moeda pro barqueiro ou ao menos um Pai-Nosso!
É lógico que é questão de tempo, afinal não sou personagem da saga Crepúsculo, vou morrer, um dia. E você também vai! Assim como a médica, o Sarney, o Niemeyer, uma hora chega o ceifador pra todo mundo.
O fato é que ninguém está preparado para morrer, mas não tem preparo, basta estar vivo, é condição única.
Sempre temos mais algum assunto pra resolver, lugar para conhecer, só que o contrato já foi assinado, quando nascemos. E não tem rescisão nem parcelamento da fatura, não tem rasura ou letra miúda, venceu tem que cumprir o acertado.
Certo é que ninguém gosta do assunto mesmo, mas se não é confortável para a grande maioria falar sobre a morte, ela se torna tema proibido, afinal, para os mortos o tema não deve interessar muito, já é obsoleto, fim de papo.
O nosso horror a morte tem menos a ver com amor a vida do que supomos, a maior parte desse medo terrível talvez diga respeito a uma certeza íntima de que estamos aproveitando mau o tempo em que estamos vivos. As coisas e pessoas importantes de verdade são sempre pra segunda que vem. Antes vem o cheque especial, a promoção no trabalho, o mestrado ou a troca do carro usado.
Tanto que é só ensaiar a brincadeira "se hoje fosse seu último dia" já começa o espetáculo de atrasados a dizer eu te amo, abraçar amigos, visitar os pais. Sempre tem humildade na última e derradeira hora para reconhecer os próprios erros, pedir desculpas...não deveria, mas é assim.
Deixamos tudo pra depois, até que o depois não chega mais.

Não tenho medo da morte, nem pressa. Mas não sou tão diferente de tudo que está escrito acima. Espero apenas não deixar as prioridades sempre atropeladas pelas necessidades materiais, porque sendo assim, se este for o último texto que eu escrevo, vou sair pela porta dos fundos, porque deixei muitas coisas realmente importantes para segunda-feira. E você?!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Máscaras


O ônibus seguia lento e lotado seu trajeto em direção ao centro da cidade; apenas um assento estava desocupado e era ao lado de um rapaz de vinte e poucos anos.
O jovem, negro, de fisionomia séria, com fones de ouvido imerso na música, era figura chamativa; com correntes grossas de prata nos pulsos e pescoço, boné mau colocado ao estilo etiqueta pra fora, brincos e tatuagen no braço. Bermuda nos joelhos e tênis sem meia, meio rapper meio skatista.
Entravam passageiros apressados no coletivo e ignoravam o assento vago dirigindo-se para o fundo e se postando de pé, mesmo em um final de dia após o trabalho. Os que embarcavam olhavam o assento ao lado do jovem e preferiam o aperto do fundo do ônibus a sentar ao seu lado...
Em outro ponto da cidade, a avenida engarrafada pareava os veículos de metro em metro.
Ao meu lado, parado, um Citroen novíssimo com dois rapazes e duas garotas em clima de festa.
O motorista, assim como os outros ocupantes do carro, estava muito bem vestido; camisa social branca, relógio combinando e cabelo de corte moderno com gel e tudo mais. Todo sorridente aguardando o próximo verde do semáforo.
O que se segue é inesperado para todos.
Logo a frente um fiat Uno faz uma troca de faixa sem dar seta e fecha o Citroen, obrigando o motorista a frear bruscamente. Com os braços pra fora os dois rapazes gesticulam para o condutor distraído do Uno, que parado no sinal, desce do carro afim de averiguar se ouve algum choque entre os veículos.
Era um senhor magro, mirrado, de uns 50 e poucos anos, calça jeans e cabelos grisalhos.
Irado, o motorista do Citroen desce do carro e parte pra cima do motorista do Uno, desferindo-lhe forte soco, sem discussão, sem reação, quebrando o nariz do senhor que jorrou sangue instântaneamente.
Ao correr na direção dos dois para tentar impedir o pior, abri a porta do Uno para o agredido sair o quanto antes do local, e o jovem bem vestido do Citroen me diz alterado: " O cara me fechou ali pô! " -já se dirigindo de volta ao seu carro e sacando um lenço para limpar cuidadosamente o sangue do motorista do Uno de sua camisa de microfibra branquíssima, agora suja, o que me pareceu incomodá-lo naquele momento.
Atônito, o senhor do Uno se demorou um pouco a continuar seu trajeto, ainda atordoado pelo golpe. Não me pediu ajuda alguma, apenas repetia em choque que havia decorado a placa para registrar ocorrência, estava inconformado. Não ia adiantar, o nariz ainda assim continuaria quebrado. Segui meu caminho e todos os outros também...
No ônibus para o centro, o jovem rapaz negro continuava sozinho no assento de dois lugares e os outros passageiros se apertavam e sacudiam de pé no corredor. Talvez seu visual inspirasse medo, não sei, então muitos permaneciam de pé ao lado dele sem aproveitar o conforto de um assento. De repente, uma senhora de idade já avançada adentra o coletivo; cheia de sacolas e se esforçando para manter o equilibrio no veículo saculejante. Antes dela girar a roleta por completo o rapaz lança um olhar para a idosa e se levanta prontamente, cedendo o seu lugar. Ela agradece com um sorriso carinhoso e o jovem acena com a cabeça afirmativamente se postando de pé pelo resto da viagem.
Logo o lugar ao lado da idosa foi ocupado por outro passageiro que antes o desprezara e a viagem seguiu normalmente...
Estive presente nas duas cenas, em momentos distintos,óbvio. Não posso medir a revolta do senhor do Uno agredido pelo jovem feroz e bem vestido.
Também não sei dizer se o rapaz do ônibus percebeu que ninguém quis se sentar ao seu lado.
Sei apenas que é muito provável que o inconsciente popular esperasse que a gentileza do rapaz do ônibus fôsse praticada normalmente pelo "bem apessoado" motorista do Citroen, e que os socos de raiva pudessem ser mais normais para o jovem do ônibus.
Toda generalização é burra, então já adianto que não tenho a intenção de fazê-la, mas esses são sinais de uma sociedade que se apoia em estereótipos de aparência para criar as personalidades. Julgar pela aparência, isso sim é estúpido.
A roupa nova e o carro importado não foram suficientes para esconder a agressividade de seu dono. Assim como o desprezo não foi capaz de suprimir a humanidade do jovem negro de aparência humilde.
É raro vermos gestos de caridade e respeito ao próximo com espontaneidade como vi nesse ônibus, tanto quanto é corriqueiro assistir a cenas de brutalidade em situações banais como as do sinal de trânsito.
Mas é certo que precisamos apurar nosso olhar, despir nossa visão de preconceitos, para quem sabe podermos enxergar mais vezes a bondade que ainda existe, onde nossa estupidez só enxerga diferença e a repudia com a indiferença.

Nota: Os dois casos são reais, eu estava de fato lá.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Espelho de amor.


Em uma das milhares de frases e citações de Gandhi, o mestre hindu compara a vida a um espelho, em que se você sorri as pessoas sorriem para você, se está triste elas se entristecem, se está com raiva, elas lhe devolvem a raiva, e por aí vai.
Certa vez conversando com um amigo me lembrei desta frase. Não obstante fosse praticamente impossível dissuadí-lo das convicções pessimistas, tentei argumentar utilizando as palavras de Gandhi e algumas alusões ao sensacionalista marketeiro "O Segredo" (que salvo seu caráter tristemente materialista não diz nenhuma inverdade, apenas distorce. Opinião minha,óbvio.)
Ao fim de todo o monólogo ouvi de meu triste expectador a seguinte conclusão:
" Não sou eu o complicado, apenas reajo aos fatos à minha maneira. Quando chego mal-humorado em algum lugar e vejo um grupo de conhecidos sorrindo largamente, mais me irrito. Assim como, se estou feliz e vejo gente triste, acabrunhada, trato de ignorar rapidamente. As vezes até tento alegrar os ambientes, mas com gente depressiva não dá. - Fecha aspas.
Percebi de pronto que eu havia terminado de conversar mais ou menos trinta minutos comigo mesmo, porque o colega não ouviu uma palavra do que eu disse. Era um convicto auto-piedoso, que gastava todas as energias culpando o mundo ao seu redor.
Se chegava triste a uma festa, o sorriso dos amigos em grupo lhe parecia chacota, como se todos ali estivessem a rir dele. Isso o irritava mais e, ainda o impedia de colher um pouco da alegria alheia. Essa conduta o afastava cada vez mais do convívio daqueles que o queriam bem, tornando-o cada vez mais prisioneiro de seu próprio humor.
Quando estava feliz não suportava gente triste, dado talvez a sua dificuldade em estar alegre, temia que a tristeza de outro lhe roubasse a tão rara felicidade.
Quanta gente pode estar agora agindo dessa maneira e não percebe?
É uma tolice acreditar que nossos problemas são tão sérios que merecem a atenção de todos. Sem partilhar do convívio social a pessoa se furta as mais diversas experiências e aprendizados.
Se não tolera com o mínimo de compaixão as dificuldades de relacionamento ou de vida do outro não pode esperar nada mais que isso pra si .
Por detrás de sorrisos fartos as vezes se escondem muitos sofrimentos, esperando apenas um sorriso seu para serem aliviados. Ninguém está no mundo de férias com vencimento infinito, cada pessoa tem seu espinho cravado no coração com o qual aprendeu a conviver sem precisar machucar os outros. Cabe aos mais lúcidos o mínimo de amor afim de se tornar potente analgésico das aflições alheias.
A vida é curta, muito curta. É necessário que possamos todos os dias resolver quais são nossas prioridades. Não vale a pena um minuto de ódio ou rancor, menos ainda passar algum tempo afastado de tudo e de todos porque acreditamos que não são tão bons quanto merecemos. Esse minuto ou esse tempo pode ser o nosso último por aqui. E não existe acréscimo nem prorrogação.
Cada vez mais precisamos aprender a usar a borracha da compreensão para que não percamos tempo precioso a culpar e crucificar as pessoas. Como no espelho de Gandhi, se tentarmos acredito que podemos refletir nos outros a felicidade que tanto buscamos para nós, tornando a nossa vida e a de tantos outros bem mais agradável.
Agir como meu citado companheiro é a clássica doença do mundo em que vivemos, a do egoísmo. Ela faz com que o mundo inteiro se debruce sobre os próprios sofrimentos e ainda ignora os tantos outros que estão batendo na porta a toda hora, pedindo quase sempre apenas um sorriso.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O velho novo tempo.


Aos doze anos de idade eu só tinha duas preocupações: não ser reprovado na escola e não fazer nada que deixasse minha mãe furiosa; ambos poderiam culminar na hoje ultrapassada "coça de chinelo" .
Já minha mãe, evidentemente, tinha várias outras preocupações, e comigo, particularmente, era para que eu não aprontasse na rua;  como brigar, quebrar coisas alheias, etc. Não posso dizer que não acontecia, mas eu cuidava carinhosamente para que nenhum dos meus pais descobrisse, a outra era que não aprontasse na escola.
Um medo comum a quase todas as mães da minha geração era em relação ao cigarro. Essa palavra nem entrava na minha casa, nunca ouvi nenhuma palestra de meus pais sobre o tabaco, eles jamais fumaram e talvez nem imaginassem que algum dos filhos tomasse tão idiota decisão.
Nesse ponto eu também proporcionei sono tranquilo a minha mãe. nunca frequentei o afamado banheiro do ginásio, onde fumar um Hollywood amarelo era a transgressão máxima dos aspirantes a adolescentes.
Nem sei o que se conversava no recinto, nunca fui muito fã de banheiros multi-uso... na verdade eu era o típico jovem desenturmado! Só era lembrado na hora de colar em provas, fazer trabalhos ou ser goleiro de peladas.
Infelizmente, quando me tornei mais engajado, popular e tal, também me tornei bem idiota! - então comecei a fumar. Enfim burro, aos 16 anos.
Escondi bem o fato e creio que a essa altura, já bem independente, descobrir minha façanha não chateou tanto meus pais. Mas imagino que, se aos doze eu tivesse fumado um trago que fosse e, com a sorte que eu tinha, fatalmente fosse pego no ato pelo diretor, esse dia teria sido sombrio na minha casa, o telefonema mais triste da história. O silêncio na mesa, o olhar de nojo do meu irmão, e, lógico, a baita coça de chinelo! Imaginar isso até hoje me arrepia, e fico feliz de não tê-lo feito.
Em 1995, o telefonema da secretaria do colégio arrepiava qualquer pai. As histórias eram sempre as mesmas: o João brigou hoje no recreio...João foi expulso...foi pego pulando o muro a fugir do colégio...e sempre terminavam com " é preciso que o(a) Sr(a) compareça na escola amanhã" .
Isso era o fim, para pais e filhos.
Se o caso fosse de fumar no banheiro. daí a secretária não tinha nem coragem de dizer o assunto, se restringia a comunicar a expulsão e solicitar a visita dos pais, urgente e sem mais.
Não sou pai, mas imagino que, hoje, o telefonema não arrepie mais os pais. Já é infarto fulminante ou desmaio para os mais saudáveis.
As traquinagens colegiais se converteram em agressão a professores. As brigas entre alunos passaram a contar com facas, estiletes, revólver! E o demoníaco Hollywood amarelo finalmente saiu de moda(isso é bom.), mas entraram a maconha e o crack(isso é péssimo.) .
E essas não são suposições, antes fossem, são constatações. Eu fico me perguntando quais histórias de colégio serão contadas pelas novas gerações, lógico, as que terminam ele...
Não faço idéia do porquê de tão brusca mudança, se fizesse talvez ganhasse um Nobel, mas não sei e não me atrevo a culpar os batidos clichês internet, vídeo game e programas violentos.
Apenas acho, que em algum momento desse desenvolvimento todo, do rompante interminável da tecnologia e da eterna busca pela ascensão financeira, a família se rompeu, como um frágil fio de cabelo que sustentava toneladas de valores e sabedoria.
Hoje quase todos somos em algum momento stressados, o perfil é sempre "online" e "ocupado", os dias são curtos demais, as noites longas acordados e curtas dormindo. Estamos conectados ao mundo todo, todo dia o dia todo, e, talvez, digo e repito, apenas talvez, nesses momentos deveríamos estar mais conectados com o mundo roteado porta adentro de nossos lares.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Rafinha Bastos X Wanessa Camargo. O relativismo da ética na TV brasileira.


O recente episódio envolvendo o apresentador Rafinha Bastos, do programa CQC, e a cantora Wanessa Camargo indicam quão volúveis são os conceitos éticos da TV brasileira, que é, mesmo que não generalizadamente o reflexo da noção de ética na nossa sociedade, não apenas para a definição do dito politicamente correto e a partir deste o oposto, mas também das questões de aplicação dos mesmos.
O fato é o seguinte: no programa exibido dia 26 de setembro, pela TV Bandeirantes, o apresentador e humorista Rafinha Bastos fez um comentário polêmico sobre a cantora.
Na ocasião Rafinha disse que "comia ela e o bebê", fazendo alusão a boa forma da cantora. Evidente que ela está grávida, e que o caso não é de canibalismo, nem pedofilia. Mas o certo é que, tanto a cantora quanto seu marido, Marcos Buaiz, não deram risadas. Sentiram-se ofendidos e isso é compreensível, além de um direito de qualquer pessoa. Mas o que veio a seguir não acontece após qualquer pessoa sentir-se ofendida, ocorre apenas para poucos.
O comentário fez com que Rafinha fosse deposto temporáriamente de sua cadeira cativa no programa, por ordem da emissora. Segundo a jornalista Mônica Bérgamo, em sua coluna na Folha de São Paulo, a decisão se deu após uma ligação feita por Ronaldo(fenômeno), sócio de Buaiz, diretamente a cúpula da emissora.
A questão é diversa, então vamos partir do seguinte: o apresentador faz humor desta maneira, e assim se projetou.
Seja na bancada do programa ou em seus shows de stand-up, essa é a linha de humor que, tanto o programa, a rede de TV , e, principalmente, o público, estão habituados a receber de Rafinha Bastos, sempre foi.
Provavelmente os números e os fatos sejam relevantes para analisar a questão:
O humorista tem modestos 3 milhões, 191 mil 401 seguidores no twitter.
A rede Bandeirantes o escalou para apresentar um especial de fim de ano (agora já se cogita que não será mais ele), além de ser o principal repórter do programa A Liga, exibido nas terças. O que significa que sua participação tem sido bem proveitosa para a TV, caso contrário não estaria no ar 3 vezes por semana.
Então porque a TV Bandeirantes tomou tão rigorosa medida desta vez? Digo desta vez pelo seguinte, e este é o ponto que me interessa:
A algum tempo atrás, entidades de movimentos em defesa das mulheres tornaram pública sua insatisfação com uma piada feita por Rafinha sobre mulheres e estupro, onde dizia que mulheres feias deviam agradecer caso fossem estupradas. Achei de mau gosto, muito, mas o importante é que, nada de "importante" surgiu desta indignação dos grupos feministas e afins.
Vejam então que, se vamos falar de politicamente correto ou não, o caso é contraditório.
Não creio que 1% das mulheres se dignariam a mover um processo ou pedir uma reprimenda ao apresentador, mas se quisessem(e poderiam)o fim seria o mesmo? Será que a Bandeirantes iria tirar do ar um apresentador de sucesso após pessoas comuns sentirem-se ofendidas?
É provável que a emissora alega internamente que a conduta do apresentador pode atrapalhar contratos publicitários. Mas após esse primeiro fato, o da triste piada do estupro, não se viu queda de audiência do programa, ou saída de anunciantes (por sinal muitos). Tampouco houve queda na popularidade do humorista. Tudo continuou como antes, inclusive a bancada do CQC. Nenhuma nota de desculpas velada e menos ainda suspensão do humorista.
Mas no caso da "famosa" cantora a medida foi outra. O clássico "1"peso e "2"medidas. Por razões de conduta ética e preservação da imagem da instituição a emissora tomou uma atitude severa, afastando o apresentador.
Não é apenas relativismo ético, é a constatação de que o problema não é o que Rafinha Bastos diz em suas piadas que incomoda a Bandeirantes, a questão é para quem diz e em qual contexto. O problema não está em ridicularizar grupos, minoritários ou não, ou fazer piadas de gosto duvidoso. Tendo anunciantes e audiência, tudo bem! Segue em frente.
Mas se o ridículo atinge um grande empresário com enorme trânsito nas mídias e uma artista com um sobrenome de sucesso, aí não! Entra o politicamente correto em campo e trata de defender a honra e a moral, distribuindo "cartões vermelhos" e notas de austeridade.
Quem sabe se ele não tivesse dito nada sobre a gravidez, e apenas " eu pego ela..." talvez nem ela nem o marido se incomodassem. Seria um elogio, vai saber...como saber o que afaga o ego dos famosos? Sempre ávidos por notoriedade e manchetes.
Não defendo nem reprovo o teor do humor feito por Rafinha, cada um assiste o que quer, e acha graça se quiser; mas acho hipócrita e bajuladora a postura da emissora, demonstrando que a sua ética não segue os padrões da sociedade como um todo, como deveria ser conceitualmente; mas que, o status social, esse sim, define o padrão de ética e o rigor no ajustamento de conduta de seus representantes.
É o retrato dos valores que recebemos da mídia e dos midiáticos. Ou melhor, da falta total de valores.

sábado, 10 de setembro de 2011

Ainda lembro


Algumas pessoas costumam afirmar que relembrar momentos felizes é saudosismo e leve prenúncio de insatisfação com o presente.
Alguns notáveis eram adeptos desta teoria, como Jung e Nietsche. Eu, todavia, discordo, e tento expor porque a seguir..
Não chego perto da notabilidade e tampouco do cientificismo filosófico de ambos, mas acho que é possível conciliar o presente e as boas lembranças que nos visitam esporadicamente.
Por exemplo:
Estou (de fato) satisfeito com meu presente; tenho todas as possibilidades humildes ou não que gostaria, estou cercado justamente pelas pessoas que escolhi, e não perdi a dádiva de sonhar,planejar e sobretudo, de esperar com euforia a próxima manhã.
Parece simplório demais, mas se nos determos apenas algumas horas sobre as pessoas, vamos ver tristemente que muitos não têm sequer uma dessas bençãos.
Eventualmente me pego a relembrar fatos que vivi intensamente e isso me retorna calorosa alegria, as vezes risadas, noutras emoção, e isso não me tira o foco do presente .
Quantas vezes cantei uma música que já havia tocado centenas de vezes ,e lembrar de um palco não me fez querer virar a noite bebendo com a minha ex-banda.
Quantos reveillon`s de luau a beira-mar, amigos que não mais encontro, histórias e mais histórias, já me vi lembrando e rindo sozinho! Dirigir a noite toda para ficar apenas um dia nas cidades, e esperar o sol nascer como se nada mais importasse, me lembrando de ligar pro dezoito noventa e quatro pela manhã ou no 25 de agosto ou de jogar vôlei na rua! Entrar em carros estacionados só pra dizer " Se fóssemos assaltantes não morreríamos de fome" ! .
E quanto mais escrevo mais me lembro, e quanto mais lembro mais risadas eu dou! É saudade, mas com a melhor conotação possível, saudade de quem não partilha mais a vivência comigo, de outros que de fato não estão mais conosco, mas que fizeram parte da trajetória que me trouxe até aqui.
Não importa o quão distantes,diferentes,irreconhecíveis... Não importa, não faz diferença se doutores ou operários, hetero ou não, porque nas minhas lembranças serão sempre queridos pelo que foram para mim.
Quando os vejo ou converso, a única imagem que tenho é a de quando os conheci, seja na infância, adolescência ou demais épocas, em meu coração todos são imortais e imutáveis, em forma e conteúdo.
Farão parte para sempre do livro das minhas melhores lembranças, e certamente esse livro não tem fim .

sábado, 21 de maio de 2011

Subir na vida

Vivendo entre as lutas inerentes à nossa existência , achamo-nos de repente insatisfeitos com algo ou tudo o que temos e somos, estamos embaixo, onde o sol queima quando há trabalho e a chuva castiga no descanso... estamos de pés no chão, no campo; entre a ferocidade da multidão e a natureza bruta a nos convidar ao trabalho. O mundo fica cinza para quem não encontra nele a paz necessária, e é nesse momento que avistamos a montanha. É uma escalada enorme até o cume, onde muito poucos conseguem chegar, mas estamos certos que o caminho para a quietude é subir, subir a vida afastando-a de tantas lutas desiguais do baixio onde nos encontramos.

Durante muito tempo permanecemos ao pé da montanha,e passando a objetivar a subida, a única visão que temos é a do topo .

Olhamos para frente e vislumbramos o momento da chegada, a cada passo, cada pedra, cada queda, o que nos impulsiona é chegar ao cume. Seguimos a escalada íngreme sem sequer pensar em voltar, resistimos ao frio, à dor e à incerteza resolutos. Seremos capazes de chegar, vamos chegar lá!

Seguem-se dias e noites e durante a caminhada deparamo-nos com as árvores e flores da subida, canto de pássaros e raios de sol. Mas é longa a subida e, dia após dia, toda essa beleza já nos é indiferente. Já não sentimos a brisa a tocar-nos a face, não sorrimos para o que é belo, nossos olhos só enxergam o que buscamos lá em cima, no topo da montanha. Afastamo-nos cada vez mais desse mundo que sempre nos cobrou toda a energia em lutas de sobrevivência, isso não faz parte de nós mais, porque estamos trilhando novos rumos, um caminho menos acidentado.

E um dia, após muita caminhada e esforço lá estamos, no topo,finalmente! É a chegada tão esperada, galgamos o último degrau de nossas ambições! Abrimos mão de muitas coisas para esta chegada e ela enfim se apresentou.

Agora, do alto da montanha, já não olhamos mais para o alto, porque supomos nada haver para olhar. Este é o ponto final do caminho que traçamos lá de baixo, onde as lutas e dificuldades já não nos motivavam.

Estamos enfim onde queríamos, mas de lá, só podemos olhar para baixo, de onde viemos.

Lá estão nossas lembranças, todo nosso suor marcado em lutas que já se findaram, amigos e pessoas amadas em lutas que ainda persistem e todo o cabedal de nossas experiências.

Percebemos, enfim, que pássaros não cantam no cume porque é frio e inóspito, árvores não crescem ali e a natureza é diminuta. Ora, estamos no topo, o tão desejado patamar mais alto das conquistas! Mas algo não está certo, agora que chegamos só olhamos para baixo; percebemos que tudo o que faz sentido para nós ficou lá, tudo o que vivemos, aprendemos, rimos e choramos, toda a esperança e a falta dela, todo o amor e o contrário; e então, com sobriedade e de alguma maneira decepcionados percebemos que, talvez o único caminho seja descer.

Vemos que o que buscávamos não está ali, que talvez nem buscássemos nada, ou que realmente encontramos o significado de nada. Nada existe, e é assustador! - Passamos a maior parte da vida exatamente atrás dele! O topo não nos completava e a felicidade que tanto queríamos não estava ali. Dali víamos meio mundo, estávamos longe de toda a dor da luta, de todo o cansaço mas não havia nada que importasse realmente naquele ponto alto do mundo.

Nessa posição no entanto, diferente de antes, havíamos mudado nosso ponto de vista e junto dele nosso modo de reflexão, tudo agora parecia mais evidente:

O que importa mesmo nunca sequer olhamos, se olhamos não percebemos e se percebemos ignoramos. Ali em cima, no topo do mundo, onde tanto tempo esperamos encontrar o que nos faltava, era onde estávamos mais sozinhos e incompletos.

Então nesse momento começamos a descer, porque percebemos que o que dá sentido a vida não é o quê, e sim por que. Não precisamos de tudo que não temos, na verdade de quase nada.

Precisamos sim é aprender a perceber tudo o que temos e como isso nos faz falta. Não precisamos traçar objetivos cartesianos para encontrar a felicidade, porque para tal é preciso apenas uma curva para olhar dentro de nós mesmos e a percepção de que tudo o que buscamos está ali, tudo o que de fato é necessário encontramos ali e o restante todo deve começar justamente dali. Dentro de nós mesmos.

M.R.Lim .