sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Morte. Assunto pra vivo.


A morte é daqueles assuntos que não se gosta de abordar. É só começar e tome cruz-credo pra cá, ta amarrado pra lá, e haja Deus-me-livre, troca o rumo da prosa logo!
Nesta terça(25) a médica da ex-viva e cantora Amy Winehouse declarou que avisou a jovem, um dia antes de sua morte, que ela estava em eminência de partir desta para uma melhor a qualquer momento. Amy respondeu: " Não quero morrer" ( * fala original: " I dont want to die, is tied up in the name of Jesus! " sic).
Era de se esperar, ninguém quer morrer, mesmo que as vezes se faça uma força danada pra provar o contrário, como era o caso da talentosa e viciada e alcólatra e etc Amy.
Se dependesse da gente , a Terra tinha que ter mais uns 30 andares e 60 puxadinhos, nem que fosse de telha de amianto, porque ninguém sairia daqui. Tá sempre faltando alguma coisa pra fazer, sempre amanhã...
A propósito, até acho que a ex-médica da estrela é competente, mas cá pra nós, essa é aquela médica que você reza pra não cruzar com seu consultório, não é? Imagina, chego eu na cadeirinha da doutora, exames na mesa, cigarros no bolso, já olhando o celular por baixo da perna pra ver se aconteceu alguma coisa no Facebook ( de útil nunca...) e ela me diz: " sr. Marcelo, sua morte é questão de tempo..." , ok, obrigado, onde eu assino? Vai receitar nada não? Um sal grosso com arruda, uma moeda pro barqueiro ou ao menos um Pai-Nosso!
É lógico que é questão de tempo, afinal não sou personagem da saga Crepúsculo, vou morrer, um dia. E você também vai! Assim como a médica, o Sarney, o Niemeyer, uma hora chega o ceifador pra todo mundo.
O fato é que ninguém está preparado para morrer, mas não tem preparo, basta estar vivo, é condição única.
Sempre temos mais algum assunto pra resolver, lugar para conhecer, só que o contrato já foi assinado, quando nascemos. E não tem rescisão nem parcelamento da fatura, não tem rasura ou letra miúda, venceu tem que cumprir o acertado.
Certo é que ninguém gosta do assunto mesmo, mas se não é confortável para a grande maioria falar sobre a morte, ela se torna tema proibido, afinal, para os mortos o tema não deve interessar muito, já é obsoleto, fim de papo.
O nosso horror a morte tem menos a ver com amor a vida do que supomos, a maior parte desse medo terrível talvez diga respeito a uma certeza íntima de que estamos aproveitando mau o tempo em que estamos vivos. As coisas e pessoas importantes de verdade são sempre pra segunda que vem. Antes vem o cheque especial, a promoção no trabalho, o mestrado ou a troca do carro usado.
Tanto que é só ensaiar a brincadeira "se hoje fosse seu último dia" já começa o espetáculo de atrasados a dizer eu te amo, abraçar amigos, visitar os pais. Sempre tem humildade na última e derradeira hora para reconhecer os próprios erros, pedir desculpas...não deveria, mas é assim.
Deixamos tudo pra depois, até que o depois não chega mais.

Não tenho medo da morte, nem pressa. Mas não sou tão diferente de tudo que está escrito acima. Espero apenas não deixar as prioridades sempre atropeladas pelas necessidades materiais, porque sendo assim, se este for o último texto que eu escrevo, vou sair pela porta dos fundos, porque deixei muitas coisas realmente importantes para segunda-feira. E você?!

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