quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O velho novo tempo.


Aos doze anos de idade eu só tinha duas preocupações: não ser reprovado na escola e não fazer nada que deixasse minha mãe furiosa; ambos poderiam culminar na hoje ultrapassada "coça de chinelo" .
Já minha mãe, evidentemente, tinha várias outras preocupações, e comigo, particularmente, era para que eu não aprontasse na rua;  como brigar, quebrar coisas alheias, etc. Não posso dizer que não acontecia, mas eu cuidava carinhosamente para que nenhum dos meus pais descobrisse, a outra era que não aprontasse na escola.
Um medo comum a quase todas as mães da minha geração era em relação ao cigarro. Essa palavra nem entrava na minha casa, nunca ouvi nenhuma palestra de meus pais sobre o tabaco, eles jamais fumaram e talvez nem imaginassem que algum dos filhos tomasse tão idiota decisão.
Nesse ponto eu também proporcionei sono tranquilo a minha mãe. nunca frequentei o afamado banheiro do ginásio, onde fumar um Hollywood amarelo era a transgressão máxima dos aspirantes a adolescentes.
Nem sei o que se conversava no recinto, nunca fui muito fã de banheiros multi-uso... na verdade eu era o típico jovem desenturmado! Só era lembrado na hora de colar em provas, fazer trabalhos ou ser goleiro de peladas.
Infelizmente, quando me tornei mais engajado, popular e tal, também me tornei bem idiota! - então comecei a fumar. Enfim burro, aos 16 anos.
Escondi bem o fato e creio que a essa altura, já bem independente, descobrir minha façanha não chateou tanto meus pais. Mas imagino que, se aos doze eu tivesse fumado um trago que fosse e, com a sorte que eu tinha, fatalmente fosse pego no ato pelo diretor, esse dia teria sido sombrio na minha casa, o telefonema mais triste da história. O silêncio na mesa, o olhar de nojo do meu irmão, e, lógico, a baita coça de chinelo! Imaginar isso até hoje me arrepia, e fico feliz de não tê-lo feito.
Em 1995, o telefonema da secretaria do colégio arrepiava qualquer pai. As histórias eram sempre as mesmas: o João brigou hoje no recreio...João foi expulso...foi pego pulando o muro a fugir do colégio...e sempre terminavam com " é preciso que o(a) Sr(a) compareça na escola amanhã" .
Isso era o fim, para pais e filhos.
Se o caso fosse de fumar no banheiro. daí a secretária não tinha nem coragem de dizer o assunto, se restringia a comunicar a expulsão e solicitar a visita dos pais, urgente e sem mais.
Não sou pai, mas imagino que, hoje, o telefonema não arrepie mais os pais. Já é infarto fulminante ou desmaio para os mais saudáveis.
As traquinagens colegiais se converteram em agressão a professores. As brigas entre alunos passaram a contar com facas, estiletes, revólver! E o demoníaco Hollywood amarelo finalmente saiu de moda(isso é bom.), mas entraram a maconha e o crack(isso é péssimo.) .
E essas não são suposições, antes fossem, são constatações. Eu fico me perguntando quais histórias de colégio serão contadas pelas novas gerações, lógico, as que terminam ele...
Não faço idéia do porquê de tão brusca mudança, se fizesse talvez ganhasse um Nobel, mas não sei e não me atrevo a culpar os batidos clichês internet, vídeo game e programas violentos.
Apenas acho, que em algum momento desse desenvolvimento todo, do rompante interminável da tecnologia e da eterna busca pela ascensão financeira, a família se rompeu, como um frágil fio de cabelo que sustentava toneladas de valores e sabedoria.
Hoje quase todos somos em algum momento stressados, o perfil é sempre "online" e "ocupado", os dias são curtos demais, as noites longas acordados e curtas dormindo. Estamos conectados ao mundo todo, todo dia o dia todo, e, talvez, digo e repito, apenas talvez, nesses momentos deveríamos estar mais conectados com o mundo roteado porta adentro de nossos lares.

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